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Venceu (apenas) o Chelsea

  • policiasdadoxa
  • 3 de jun. de 2021
  • 4 min de leitura

Por Agente Tsubasa


No passado sábado, dia 29 de maio, a cidade do Porto foi, pela primeira vez, palco daquela que é a competição de clubes de futebol mais importante do panorama europeu, a Liga dos Campeões. Dentro das quatro linhas, o Chelsea venceu o Manchester City por uma bola a zero, mas fora de campo, na “partida que andamos a disputar” desde março do ano passado, não houve qualquer vencedor. Assistimos a violentos confrontos entre adeptos nas ruas da cidade Invicta e observámos, mais uma vez, a falta de coerência e total desorientação por parte das autoridades portuguesas responsáveis pela situação pandémica.


Originalmente, a final da Liga dos Campeões desta edição estava agendada para o Estádio Olímpico Atatürk, em Istambul. Face ao número elevado de casos diários de Covid-19, na Turquia, no início do mês de maio, as viagens entre o Reino Unido e a Turquia passaram a figurar na “lista vermelha” e assim, a UEFA optou por alterar o local da final da prova milionária pelo segundo ano consecutivo.


Devido ao facto de se tratarem de duas equipas inglesas a discutir o título de campeão europeu de futebol, a Federação Inglesa de Futebol ofereceu-se de imediato para receber a partida no Estádio de Wembley, Londres. Algo que parecia fazer todo o sentido. Primeiro, seria a opção que levaria a um menor tráfego de pessoas e por isso, teria um muito menor risco de propagação do vírus Covid-19. Segundo, o jogo continuaria a ser disputado em campo neutro uma vez que se trata do estádio nacional inglês, palco habitual da final da Taça de Inglaterra, Taça da Liga Inglesa e outras competições. Por último, a Federação Inglesa e o governo britânico cooperaram em conjunto nas últimas semanas para que fosse feito um regresso consciente e sensato dos adeptos ingleses aos estádios de futebol. Por exemplo, tanto a Final da Taça de Inglaterra assim como as últimas duas jornadas do campeonato inglês tiveram presença reduzida de público. Desta forma, tudo indicava que Wembley estaria na pole-position para receber a final da Liga dos Campeões.


No entanto, a escolha recaiu novamente sobre Portugal. Se o ano passado haveria sido Lisboa a receber a fase final desta competição, este ano foi o Estádio do Dragão a receber a final da prova milionária. De acordo com as declarações de Aleksander Čeferin, presidente da UEFA, esta decisão deveu-se devido à rápida solução encontrada por parte da Federação Portuguesa de Futebol e autorizada pelo governo português.


Curioso, não é? As mesmas autoridades que impediram o regresso de público aos grandes eventos desportivos realizados já este ano em Portugal (Grande Prémio de Moto GP, Grande Prémio de Fórmula 1, Final da Taça de Portugal), eventos que seriam essencialmente destinados para o público português, acharam que era coerente receber uma Final da Liga dos Campeões com 12,000 ingleses nas bancadas. As mesmas autoridades que impedem familiares dos atletas de qualquer modalidade desportiva de assistirem aos seus jogos, acharam que era coerente receber uma Final da Liga dos Campeões com 12,000 ingleses nas bancadas. As mesmas autoridades que foram incapazes de prevenir a concentração de milhares de adeptos do Sporting Clube de Portugal nas ruas de Lisboa aquando da conquista do campeonato nacional de futebol, acharam que era coerente receber uma Final da Liga dos Campeões com 12,000 ingleses nas bancadas.


No mesmo dia em que foi confirmado que a cidade do Porto seria a cidade anfitriã, a ministra do Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva, anunciou que iria haver uma “bolha de segurança” em que os apoiantes do Chelsea e do Manchester City viriam e regressariam ao seu país no mesmo dia em voos charters, com teste feito e apenas fariam deslocações do aeroporto para uma zona de espera e daí para o Estádio do Dragão, e vice-versa.


Ou 72 horas antes do apito inicial do árbitro da partida já alguém haveria gritado a icónica expressão “Rebenta a bolha” ou nunca um cenário de bolha de segurança foi verdadeiramente equacionado pelas autoridades portuguesas. De facto, à medida que os primeiros “turistas” britânicos chegavam a Portugal, curiosamente com o bilhete para a final junto ao passaporte, já se verificava que nunca houve capacidade e condições para encher a tal “bolha”. Assim, os portugueses tiveram o “prémio” de assistir em primeira fila àquilo que durante meses não eram autorizados a fazer. Viram os adeptos ingleses passearem, sem máscara, pelos lugares mais emblemáticos do Porto, beber cervejas em esplanadas, em grandes aglomerações, e entrar num recinto desportivo. Ainda mais sorte tiveram os portugueses que são fãs de desportos de combate ou lançamentos do peso, pois puderam ver a cidade do Porto ser palco de cenas de pancadaria entre adeptos e campeonatos de arremesso de cadeiras.


Por um lado, não tenho a menor dúvida que estes últimos dias deram alento àqueles que vivem do setor do turismo e que puderam voltar a ter os seus espaços ocupados, sejam eles restauração, hotelaria, etc. Mas serão dos poucos vencedores da realização desta partida em solo português porque, pelo outro lado, é inconcebível a dualidade de critérios que existiu para a realização deste evento. Por exemplo, há cerca de uma semana, Sport Lisboa e Benfica e Sporting Clube de Braga defrontaram-se em Coimbra, sem a presença dos seus adeptos, na final da Taça de Portugal e, citando o Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo, porque “Este é um momento de exceção. Infelizmente, não há público nos estádios, exatamente porque a ideia é evitar aglomerações e não pôr em causa o que o País tem vindo a fazer no combate a esta pandemia”. Como é que passado uns dias tem lugar, em Portugal, um evento da dimensão da Liga dos Campeões com público nas bancadas e aglomerações de adeptos em fanzones e nas ruas do Porto? Nada disto seria assunto se existisse um fio condutor lógico e coerente que justificasse esta decisão, mas aconteceu exatamente o oposto. E vamos obter como resposta “Iremos tirar lições e apuraremos responsabilidades”. Como é que através deste mau exemplo as entidades competentes vão ter a autoridade necessária para regular qualquer evento a ter lugar nos próximos meses ou até mesmo no nosso quotidiano?


Perderam autoridade. Perderam coerência. Perderam razão. Venceu o Chelsea.


Agente Tsubasa








 
 
 

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