Uma Vitória, Muitos Desafios
- policiasdadoxa
- 1 de fev. de 2022
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Por Gonçalo Rodeia Gomes
No domingo, os portugueses foram convocados para votar nas eleições legislativas antecipadas, fruto da dissolução da Assembleia da República provocada por um chumbo do Orçamento de Estado.
O resultado destas eleições é claro: o PS é o maior partido em Portugal. Alcançou a tão desejada maioria absoluta e vai governar o país sozinho, libertando-se dos parceiros à esquerda, eleitoralmente penalizados pela crise política.
Os resultados de domingo são também uma derrota para a direita portuguesa, em que o voto útil não funcionou, levando a uma disseminação de votos entre PSD, CHEGA e IL contribuindo para um crescimento do PS.
A IL posiciona-se como uma força política de oposição ao socialismo, mas ainda assim falha o assalto ao 3º lugar. No entanto, afirma-se com um resultado muito superior a 2019, passando de 1,29% para 4,98%, o que significa que mais que duplicou o número de votos.
O CHEGA afirma-se como a 3ª força política e acaba por confirmar o discurso visionário de André Ventura em 2019 quando dizia que o seu partido tinha vindo para ficar. O CHEGA cresce a toda força em todo o território e não apenas com uma implantação em zonas litorais ou urbanas. Nestas eleições, o CHEGA confirma a sua natureza de partido de protesto, com uma significativa expressão parlamentar.
O BE e a CDU são os grandes derrotados desta noite eleitoral, fruto da crise política provocada pelo chumbo do orçamento. Juntos perderam cerca de 350 mil votos, que foram ganhos pelo PS. A factura da crise foi paga em votos perdidos.
Não há vitórias morais na política e a continuidade das lideranças de Catarina Martins e Jerónimo de Sousa são uma incógnita política.
Uma palavra para Rui Tavares e para o Livre que consegue recuperar o assento parlamentar. Em comparação com 2019, o Livre cresce a nível eleitoral, conseguindo almejar o tão desejado lugar no parlamento. É a afirmação da esquerda ecológica e ver Rui Tavares no parlamento será algo muito positivo para a nossa democracia.
Nota ainda para os partidos que nos últimos anos têm estado arredados do arco da governação: o CDS teve um resultado que já se antecipava. Um dos partidos fundadores da democracia portuguesa perde representação parlamentar. É uma derrota pessoal de Francisco Rodrigues dos Santos, mas também uma derrota da democracia que vê um dos seus partidos fundadores a afundar-se.
Chicão já abriu caminho à sua sucessão, que será sempre difícil. Nuno Melo já disse que é candidato à liderança do CDS, que será uma longa travessia no deserto.
E por fim, o PSD. O PSD consegue um dos seus piores resultados de sempre e acaba por ter mais votos do que em 2019, mas que não se traduzem num aumento do número de mandatos atribuídos, verificando-se o contrário: o PSD perde Deputados em relação às últimas legislativas.
As sondagens que davam o PSD num empate técnico com o PS não passaram de uma miragem. Creio que toda a estrutura viveu nesta ilusão, o que levou a um facilitismo eleitoral, contribuindo para uma vitória confortável de António Costa.
No rescaldo da noite eleitoral, Rui Rio assumia que caso o PS tivesse maioria absoluta não se via como parte da solução política. O PS conseguiu eleger mais de 117 Deputados e esta vitória socialista é fruto da má preparação que houve do PSD e da direção de Rio.
É a 4ª eleição a que o PSD de Rui Rio se apresenta e o resultado é sempre o mesmo: a derrota. É tempo de abrir novas portas dentro do partido, dando lugar àqueles que poderão ser parte da solução e não a continuação do problema. Seja quem for o sucessor de Rui Rio, terá pela frente uma governação socialista de 4 anos com uma bancada parlamentar escolhida pelo anterior líder do partido.
É tempo de mudança na política portuguesa abrindo espaço para novas caras, em novos tempos.
Gonçalo Rodeia Gomes

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