TAP – A cega persistência
- policiasdadoxa
- 21 de dez. de 2020
- 4 min de leitura
Por Agente 1984
A TAP AIR Portugal foi criada a 14 de março de 1945, sendo o seu nome até à data, “Transportes Aéreos Portugueses”. Desde a sua criação que a TAP foi, em diferentes momentos históricos, pública e privada.
No entanto, em 1974, com o “tsunami” de nacionalizações que se verificou, voltou para a esfera pública e assim permaneceu até o Governo de Pedro Passos Coelho a ter privatizado novamente, com a venda de 61% ao consórcio Atlantic Gateway.
Todavia, mal o primeiro governo liderado por António Costa tomou posse, este reverteu a privatização, ganhando o Estado o estatuto de acionista maioritário.
Todos nós sabemos que a capacidade da TAP em evaporar dinheiro dos contribuintes sempre foi elevada, aliás, merecedora até de um documentário na Netflix. Contudo, até hoje, estávamos a falar de valores suportáveis, mesmo que questionáveis.
Ora, o ano de 2020 trouxe a machadada final na já frágil situação financeira da empresa de aviação. Neste momento, o Estado Português vai injetar 3.700 milhões de euros até 2025.
Estamos a falar de valores astronómicos, e tornam-se ainda mais astronómicos quando comparados com a sua dimensão. Se bem nos lembramos, começou-se por falar em 500 milhões de euros, depois em 1.2 mil milhões, mais tarde em 3500 milhões e agora parece que se chegou ao valor final de 3700 milhões de euros.
Como bom liberal que sou, tenho a minha opinião sobre a TAP, no entanto, não pretendo com este artigo polarizar ainda mais a questão, mas sim discutir a forma recorrente como se faz política em Portugal.
A meu ver, mais grave que injetar 3700 milhões de euros numa empresa cronicamente falida, como é o caso, o mais problemático foi a forma leviana como o fizeram.
Se observarmos com atenção, os defensores da “operação santa casa da misericórdia TAP” elencam inúmeros argumentos a favor desta injeção, contudo, até hoje, não conseguiram demonstrar que, efetivamente, vale mais 3.700 milhões. É certo que tem o seu valor estratégico e representa um valor relevante no nosso PIB, mas a pergunta para um milhão de dólares é: será que estamos dispostos a suportar, para todo o sempre e a qualquer custo, esta empresa com base numa premissa desconhecida? Creio que não.
Somando a isto, das 11 empresas que foram alvo do plano de reestruturação, ao abrigo do mecanismo europeu que está a ser utilizado na TAP, 10 dessas 11 empresas faliram. Ou seja, é altamente provável estarmos a “queimar” 3.700 milhões de euros nos aviões da TAP.
Relativamente à apresentação do plano de restruturação conduzida pelo Ministro Pedro Nuno Santos para restruturar a TAP, tenho apenas uma pequena nota a tecer: um bocadinho de vergonha na cara não fazia mal nenhum. Ora, todas as outras empresas para receberem apoios do Estado, que comparados com o da TAP são cêntimos, não podem despedir ninguém, esta, por sua vez, vai despedir e cortar salários “para ficar competitiva”, uma vez que é a “única maneira de a salvar”.
Então, mas este raciocínio só se aplica à TAP porquê? O socialista Pedro Nuno Santos, por momentos, parecia estar a ser demonizado pelo seu alter ego capitalista.
Segundo as contas apresentadas pelo Governo, a TAP vai perder 6.7 mil milhões de euros até 2025, apenas prevendo a possibilidade de lucro nesse mesmo ano. Estamos, basicamente, a cavar um buraco no deserto e depois a tentar tapá-lo com migalhas.
A última vez que esta deu lucro foi em 2017, com 21.2 milhões de euros, coisa que não acontecia desde 2007. Desde essa altura que nunca mais teve lucro, inclusivamente, teve um prejuízo de 118 milhões de euros em 2018 e de 105.6 milhões de euros em 2019. Os números falam por si.
Não podemos cair no erro de comparar a TAP à Lufthansa ou à Air France, estas últimas são empresas rentáveis, assim sendo, faz todo o sentido que os respetivos Estados as auxiliem. E, mesmo comparando o valor do auxílio recebido por cada uma com a sua dimensão, a TAP recebeu, proporcionalmente, bastante mais.
Muito sinceramente, estou um pouco cansado desta ideia de ser um dever patriótico salvar a qualquer custo empresas que não têm salvação. Os portugueses estão fartos de passar cheques em branco. Não sei ao certo o valor da TAP para economia portuguesa, aliás, ninguém o sabe, mas sei o valor económico que 3.700 milhões poderiam ter se fossem utilizados para baixar os impostos da classe média ou para apoiar PME’s, especialmente nesta altura.
Obviamente que gostaria, num universo paralelo, de ter uma companhia aérea de bandeira pela importância estratégica que tem. Todavia, também não podemos dizer que a TAP foi umas das principais responsáveis pelo imenso aumento do turismo nos últimos anos. Ora, tal como ninguém vai passar um fim de semana romântico a Paris por causa da Air France, ninguém vem a Portugal por causa da TAP. Só faltou dizerem que a Madonna descobriu Lisboa porque num belo dia em LA viu um avião da TAP a aterrar e lembrou-se de mudar para cá.
Uma questão mais sensível relativamente à TAP é o seu peso nas exportações e o que isso representa na balança portuguesa. Apesar de exportar mais do que importa, não se pode apenas dizer que exporta imenso quando, em 2019, foi a terceira maior importadora de bens. É preciso fazer o balanço, não se pode apresentar uma coisa sem a outra.
A TAP, nesta altura, acaba por ser um fruto envenenado, sendo urgente perceber que insistir cegamente na premissa de que “a TAP é fundamental para o país” não é, neste momento, o caminho mais adequado.
Concluindo, é caso para dizer que a cega persistência de salvar a TAP, acaba por cegar as evidentes consequências negativas que daí vêm, por muito boas que sejam as intenções.
Agente 1984

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