Os milhões do Atlântico
- policiasdadoxa
- 5 de jul. de 2021
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Por Gonçalo Rodeia Gomes
Esta semana, Portugal foi “apanhado” de surpresa com a detenção do empresário Joe Berardo e do seu advogado André Luiz Gomes. São indiciados de crimes de burla qualificada, branqueamento de capitais e fraude fiscal, que podem ser a ponta de um icebergue de que ainda ouviremos falar.
Os esquemas da teia montada pelos arguidos resultaram na lesão do sistema bancário português em nada mais nada menos do que cerca de 1000 milhões €. Um valor astronómico e que ainda hoje tem efeitos nas contas dos portugueses.
A bem da verdade, acho que todos nós saberíamos que era apenas uma questão de tempo até ser desmontado este esquema fraudulento. O véu começou a ser levantado em 2019, aquando da audição parlamentar de Joe Berardo, onde este decidiu adotar uma posição de vitimização deixando vincado que “pessoalmente não tenho dívidas”. É caso para parafrasear o programa de Ricardo Araújo Pereira:” Isto é gozar com quem trabalha”. As declarações do empresário, foram, no mínimo, uma vergonha para os portugueses e foram mais uma tentativa de passar um atestado de estupidez a todos nós.
Acho que os portugueses aplaudem a decisão do Ministério Público de lutar pelo combate à corrupção e esta atuação demonstra que a justiça, ainda que lenta, está viva e está a funcionar. A decisão só peca por tardia porque era óbvio que Joe Berardo e outros tantos (que ainda serão acusado e eventualmente julgados) não faziam os negócios dentro dos limites legais.
Em causa, estão os negócios do empresário através de pessoas coletivas que ele dominava, num intrincado esquema jurídico e financeiro, que nunca suscitou reservas à banca que o financiou e renegociou os financiamentos, não apenas para investimentos, mas para o assalto ao poder no BCP, que envolveu um financiamento de 429 milhões de euros da Caixa Geral de Depósitos, que culminou com a chegada à presidência deste banco do amigo Carlos Santos Ferreira ,até então presidente da Caixa Geral Depósitos na altura em que os financiamentos foram aprovados.
Ao mesmo tempo, o Estado negociou com Berardo condições para que a “coleção Berardo” fosse disponibilizada ao público, com a criação duma fundação entre o Estado e o empresário, num negócio de contornos dúbios e que não acautelava o interesse público, como agora se torna evidente e que suscitou dúvida ao então Presidente da República, Cavaco Silva, aquando da promulgação do diploma de criação da referida fundação.
A pergunta que faço é: como é que isto foi possível? A falta de cuidado do Estado e da Banca é perturbadora e ainda hoje questionamos se alguma coisa mudou desde então.
Há milhões perdidos no meio do atlântico... até quando?
Gonçalo Rodeia Gomes

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