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Entregues ao Fado

  • policiasdadoxa
  • 5 de mar. de 2021
  • 3 min de leitura

Tiago Rodrigues (convidado)


Desde de Março de 2020 que Portugal se encontra numa situação de desnorte, devido à pandemia de SARS-CoV-2. Foram praticamente os portugueses que numa primeira fase se autocolocaram em confinamento para de seguida o governo vir decretar o que se constituía a realidade. Quando o vírus nos apanhou de surpresa não havia forma de prever o desfecho, nem como fazer alguma prevenção. Passou-se praticamente um ano desde o início dessa hecatombe e o que percebemos é que a Direção Geral da Saúde está na mesma situação que estava aquando do começo da pandemia, sem planeamento e tomando decisões ao sabor das modas ou das extremas necessidades.


Foi aprovado o 12º Estado de Emergência e parece que, misturado com um conjunto de medidas incoerentes, o confinamento é a única arma que este governo dispõe para controlar a disseminação do vírus e só o faz porque sabe que o SNS entra em rotura. Continuamos ainda hoje em dia com um “efeito de fim de semana” nos números de infetados diários, que sistematicamente são mais baixos aos domingos e segundas-feiras, não porque o vírus esteja a descansar mas porque a testagem está presa nos horários dos funcionários públicos. Nunca se adaptaram os horários de técnicos e analistas à necessidade de dados fiáveis ou a uma estratégia técnico-científica de controlo. Sem dados credíveis nada é regível.


As declarações de Marta Temido, ao afirmar que “é criminoso dizer que não houve planeamento” não escondem o facto de nem se ter previsto a falta de agulhas nos hospitais. Não há ninguém no Ministério da Saúde capaz de elaborar uma árvore de falhas? Não há ninguém capaz de estabelecer cenários? Não há ninguém capaz de criar cenários, construir modelos ou fazer projeções?


No planeamento a matemática interessa, e neste caso, muito.


Outros países, como a Estónia, Eslovénia e Áustria utilizam a testagem em massa como forma de rastrear o vírus e por sua vez controlar a sua disseminação, prática que se tem mostrado muito eficaz. Em Portugal, Graça Freitas afirma que a testagem não nos ajuda a controlar o vírus, apenas nos diz quem está infetado. É evidente que de um teste apenas se tira a informação está infetado ou não está infetado, mas de um conjunto vasto de testes retiram-se informações estatísticas extremamente importantes para a gestão de uma pandemia: Como cresce a infeção, quais os ambientes mais propícios à disseminação do vírus, quais são os mais vulneráveis, como se comunica a informação, etc, etc. Há uma clara iliteracia científica e uma descrença do governo nos modelos matemáticos.


Após um ano é que se consideram, por parte das entidades competentes, os testes rápidos. No tempo médio de um resultado de um teste PCR obtêm-se 96 resultados de testes rápidos. Mesmo que 50% dos testes rápidos fossem imprecisos, 48 deles seriam estatisticamente suficientes para identificar uma ou várias cadeias de transmissão. Se aplicados à monitorização de comunidades como a escolar, a fábricas, a transportes públicos, etc, de forma aleatória, evitaríamos em tempo útil o exponencial aumento de infeções. E os testes de saliva como usá-los no controlo da pandemia? Falta planeamento que sendo estatístico se designaria de “planeamento experimental”.


A situação parece caricata, mas mais fica quando um grupo de médicos reformados, representados pelo Professor Gentil Martins, mandou uma carta ao governo a oferecer-se para colaborar, visto que há/havia falta de profissionais no SNS e os que existiam encontravam-se esgotados, mas não obteve qualquer tipo de resposta. Se existissem cenários até essa necessidade estaria ali considerada como esteve em alguns modelos de académicos portugueses.


Portugal passa agora pelo segundo confinamento e, a poucas semanas de desconfinar, não sabemos que plano existe nem como será executado. Fecharam-se as escolas sem explicar os critérios uma vez que se garantia, sem testes, que estas não eram focos de infeção e pensa-se abrir de novo sem critérios, condicionantes ou estratégias de monitorização da infeção em espaços escolares.


A maioria dos partidos apresentaram propostas concretas para regular a situação, mas por algum motivo, por mais ou menos orgulho, nem essas são aplicadas.


Tiago Rodrigues




 
 
 

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