top of page
Buscar

Covid – Afinal, a culpa é de quem?

  • policiasdadoxa
  • 31 de jan. de 2021
  • 4 min de leitura

Por Agente 1984


Portugal vive uma situação que há uns tempos seria inimaginável, sendo hoje dos piores países do mundo, quer ao nível de novos casos, quer ao nível da mortalidade, tendo mesmo chegado a ser o pior do mundo se avaliarmos a situação através do rácio por 1 milhão de habitantes.


Sempre tive alguma resistência à teoria da culpabilização, isto porque, ao estarmos a culpabilizar algo ou alguém, acabamos, no fundo, por nos desculpabilizar de tudo.

No caso da Pandemia torna-se ainda mais fácil culpabilizar todos e ao mesmo tempo ninguém, ou seja, neste momento, estamos a culpabilizar os Portugueses pelo estado a que chegámos, estamos a tornar cada português, através de inúmeros posts ou instastories, num polícia da moralidade. Ao fazermos isso estamos, de facto, a não responsabilizar ninguém e, sobretudo, a não solucionar o problema.


Esta técnica de responsabilizar a sociedade enquanto um todo é das ferramentas de manipulação mais empregues pela classe política, mas porquê? Porque, desta forma, ao invés de pedirmos responsabilidades a quem de direito e de nos revoltarmos contra algo, culpamo-nos a nós próprios. Assim, nunca ocorrerá a mínima responsabilização dos agentes políticos.


Sei que este último ano passou depressa, mas desde o início que a culpa foi de alguém, mas nunca de quem tomou decisões. Vejamos, durante o primeiro confinamento eram os idosos, depois foram os jovens, mais tarde eram os irresponsáveis de Lisboa, depois foram os irresponsáveis do Norte. Finalmente, a culpa é de todos. Quer dizer, de todos menos de quem decide.


Ora, em última análise, a culpa pode ser imputada aos Portugueses porque se ninguém sair de casa não há transmissão de vírus. Pois, mas nós temos de sair de casa, temos de ir comprar bens alimentares, temos de trabalhar, temos de manter a mínima saúde mental, precisamos de tentar viver o mais semelhante possível com a vida que tínhamos, obviamente tudo isto seguindo as recomendações sanitárias.


Assim, cabe ao Governo, desde logo, fiscalizar quem não cumpre e põe em risco todos os outros. Em segundo lugar, dar ferramentas às pessoas para que diminuam o risco de contrair o vírus, como, por exemplo, resolver, de uma vez por todas, os problemas nos transportes públicos e, por fim, organizar de forma eficiente os serviços responsáveis pela resposta sanitária, falo dos hospitais.


A fiscalização efetiva foi praticamente inexistente, bastava ir a certos restaurantes e ginásios para o constatar. O importante era fechar a ponte 25 de Abril às 00:00, de forma a mostrar fiscalização, para abrir os telejornais no dia seguinte. Qual o ponto em comum em todas reportagens? Os números altamente marginais de infratores.


Sobre os transportes públicos nem vale a pena refletir muito, todos nós vemos as imagens e ouvimos os vários relatos dos seus utilizadores.


Finalmente, a resposta do Sistema Nacional de Saúde, aqui já estamos perante uma questão mais delicada.


Em primeiro lugar, o rastreio, e falo por experiência própria, sempre foi algo que nunca funcionou. De quem será a culpa? Obviamente que com 10.000 casos por dia é impossível rastrear tudo, mas o objetivo de rastrear de forma eficiente é nunca chegar a este ponto.


Todavia, em entrevista à RTP, a Ministra da Saúde disse que neste momento há menos inquéritos epidemiológicos por apurar do que existiam em novembro. Obviamente que é algo positivo, mas a pergunta que se impõe é: então porque é que as medidas que levaram a essa diminuição não foram implementadas antes? Temos que, de uma vez por todas, agir de forma preventiva e não nos limitarmos a reagir ao momento.


Em segundo lugar, face à capacidade de resposta disponível, isto é, toda a capacidade hospitalar em Portugal (pública e privada), é incompreensível não estarmos a usar os privados em toda a sua plenitude, quer para Covid, quer para não Covid. Uma morte não covid tem o mesmo peso que uma morte covid, é importante não nos esquecermos disto.


Como é possível aceitar que um Primeiro Ministro diga em janeiro de 2021 que ainda se está a negociar com os privados? Estamos há praticamente um ano em pandemia, já deveria estar tudo negociado, mesmo que nunca viesse a ser necessário recorrer aos seus serviços.


Por fim, o que potenciou este aumento tão expressivo de casos, que tantos entendidos criticam, o Natal. Tivemos um Natal sem quaisquer restrições, mas atenção, não sou dos hipócritas que agora aponta o dedo a dizer que se devia ter fechado tudo. Contudo, acho que se devia ter agido mais cedo.


Já se sabia que ia ocorrer um aumento expressivo do número de novos casos, então, devia-se ter “fechado” o país logo a seguir ao Natal. No mínimo, deveria ter existido a ínfima fiscalização durante a passagem de ano, mas já vimos que a fiscalização não é o ponto forte das nossas autoridades.


Na supramencionada entrevista, a Ministra da Saúde referiu o facto de uma semana antes do confinamento geral estar-se a discutir se os restaurantes deveriam permanecer abertos até as 15h ao invés das 13h, como forma de explicar que agiram no tempo certo. Ora, lamento ser necessário expor este facto, mas eu não quero governantes que se orientam consoante a opinião publica, se assim fosse as medidas de confinamento seriam ditadas por sondagens. Exijo sim um Governo que tome as medidas necessárias no tempo certo, mesmo que isso não seja popular.


Sejamos francos, todos nós, com mais ou menos frequência, nestes 10 meses de pandemia, já “pecámos” em algum momento, mas daí a fomentar a narrativa de que temos estes números porque fomos todos uns completos irresponsáveis, como muitos procuram fazer, vai uma grande distância. Todos nós podíamos ter feito mais, mas, neste caso em específico, o Governo tem de assumir a sua quota de responsabilidade porque só assim irá conseguir fazer melhor, e fazer melhor é salvar vidas.


A desresponsabilização é algo intrínseco a este Governo, tudo passa ao lado dos responsáveis máximos, desde a situação vergonhosa do SEF à nomeação do Procurador Europeu baseada em informações falsas. E a cereja no topo do bolo foi a lamentável organização do voto antecipado que gerou filas inexplicáveis em tempo de pandemia. Em todos estes casos, ocorreu uma total impunidade dos principais agentes políticos que envergonharam o Estado Português e, por consequência, todos os Portugueses.


Em suma, todos nós precisamos de refletir de forma a concluirmos o que mais poderíamos ter feito a nível individual, mas em nenhuma altura aceitem ser o bode expiatório das más decisões dos nossos governantes.


Agente 1984



 
 
 

Comments


  • Instagram
  • Facebook
bottom of page