Como e quem vai pagar a fatura do Covid?
- policiasdadoxa
- 17 de abr. de 2021
- 2 min de leitura
Por Agente 1984
Será esta a pergunta para um milhão de dólares ou será que todos nós já sabemos a resposta, mas não queremos aceitar a realidade que nos aguarda?
Susana Peralta, numa entrevista ao jornal Público, sugeriu a criação do imposto sobre a “Burguesia do teletrabalho”, como fosse possível utilizar este critério para delimitar a incidência de um novo tributo. Até porque, a “Burguesia do Teletrabalho” é a manifestação de uma realidade pré-existente em Portugal e não uma consequência da pandemia.
Portugal sempre foi um país a duas velocidades, a dos trabalhadores precários a recibos verdes ou contratados a termo e, por outro lado, a da classe média que, por norma, tem contratos sem termo. Quando ocorrem sobressaltos económicos, os principais a serem atingidos são os primeiros porque representam os custos variáveis das empresas, pelo que podem ser descartáveis de um dia para o outro.
De forma a sermos intectualmente honestos, há uma parte significativa do país que esteve sempre operacional e nunca em teletrabalho, como, por exemplo, a construção civil ou a distribuição alimentar. Será que esses também não foram beneficiados em relação a quem perdeu o emprego?
A verdade, por muito que nos custe, é que a pandemia teve, está a ter e terá um custo financeiro enorme associado.
Vejamos, só há uma solução para pagar a fatura: aumentar os impostos já existentes ou criar novos. Cada vez que ouvirem o contrário, lembrem-se do número mágico: “133,7%” – este é o valor da nossa dívida pública em relação ao nosso PIB. Dizer que não se vai fazer nem uma coisa nem outra é ludibriar o povo português com uma utopia.
Países como a Alemanha, a Dinamarca ou a Áustria conseguem suportar o impacto económico da crise, isto porque têm dívidas soberanas diminutas. Logo, podem aumentar as respetivas dívidas em tempos complicados sem a necessidade de, posteriormente, aumentarem os impostos das suas populações. No fundo, os seus Estados conseguem atuar em contraciclo.
Portugal não o pode fazer, aliás, não o está a fazer. É dos países que tem vindo a gastar menos dinheiro em apoios à economia, a nível europeu.
Por esta altura, já todos percebemos que a recuperação económica não vai ser em “V”, ou seja, rápida. Portugal ainda tem uma agravante, a sua forte dependência económica pelo turismo, que ninguém sabe ao certo quando alcançará os níveis de 2019.
Tudo isto irá ter um preço e, mais uma vez, serão os mesmos a pagar, a já altamente estrangulada classe média, que de média tem cada vez menos, facto que ninguém parece querer admitir.
Sempre foi e sempre será a classe média porque é esta quem suporta o Estado Português.
Infelizmente, grande parte do povo português praticamente não desconta para o IRS devido aos seus baixos rendimentos. E aqui, sejamos sinceros, não entra para a equação quem esteve ou não em teletrabalho. O único fator operacional relevante são os rendimentos dos sujeitos passivos.
Hoje em dia, para a generalidade da classe média, a realidade tenebrosa da crise ainda não chegou, apenas vê o nevoeiro. Todavia, ao contrário de São Sebastião, esta irá chegar um dia.
Agente 1984

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